Reunião de chanceleres na próxima
semana, no Rio de Janeiro, é uma tentativa de estabelecer pontos da agenda do
governo Lula, como combate à desigualdade e nova governança global, em um
contexto internacional complexo
O Rio de Janeiro sedia, na próxima semana, a primeira
reunião ministerial do G20 sob a presidência do Brasil. Chanceleres das maiores
economias mundiais sentarão à mesa durante dois dias para debater as tensões
atuais e a reforma dos órgãos de governança global, como o Conselho de
Segurança das Nações Unidas (ONU). O cenário é desafiador. No Oriente Médio, a
guerra entre Israel e o grupo extremista Hamas perpetua uma crise humanitária
na Faixa de Gaza, com reflexos em toda a região. Por exemplo, com o aumento da
atividade de piratas no Mar Vermelho.
Na Ucrânia, a ofensiva russa continua, sem previsão de um
fim para o conflito. Tensões políticas entre outras potências, como Estados
Unidos, China e Índia, também se fazem presentes. O papel do Brasil à frente do
grupo — o país assumiu a presidência temporária em dezembro último — será
tentar costurar posicionamentos em prol de um cessar-fogo em Gaza e do fim dos
conflitos armados. Além disso, o país precisa fazer andar as discussões sobre
os três eixos que definiu como prioridades: combate às desigualdades, fome e
pobreza; desenvolvimento sustentável e transição energética; e reforma das
instituições de governança global.
O encontro ocorre na quarta (21) e na quinta-feira (22) da
próxima semana, na Marina da Glória, sob um forte esquema de segurança. O
ministro das relações exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, confirmou presença.
O chanceler chinês, Wang Yi, porém, mandará um substituto. Ele esteve há poucos
dias no Brasil e conversou com o chanceler Mauro Vieira sobre a relação entre
os dois países. Também é esperada a presença do secretário de Estado dos
Estados Unidos, Antony Blinken.
O G20 é formado pelas 19 maiores economias do mundo, além
da União Europeia e da União Africana. Participam também representantes dos
países convidados: Angola, Egito, Emirados Árabes Unidos, Espanha, Nigéria,
Noruega, Portugal e Singapura.
O cenário mais crítico de tensão que deve ser discutido
pelos chanceleres é o do Oriente Médio. Além da invasão da Faixa de Gaza, a
ação do grupo rebelde Houthi, que controla parte do Iêmen e apoia a Palestina,
está prejudicando o fluxo do comércio internacional no Mar Vermelho. A região
abarca rotas marítimas essenciais. Navios de guerra dos Estados Unidos, da
China, da Índia, União Europeia, Arábia Saudita e de outros países estão nas
águas, o que aumenta os potenciais conflitos diplomáticos.
Além de presidir o G20, o Brasil assumiu um papel
importante no Mar Vermelho: o comando da força-tarefa combinada que combate os
piratas, cargo que pode ter duração entre três e seis meses (leia mais na
página 3). A guerra da Ucrânia, por sua vez, deve ter papel secundário nas
discussões.
Ao lançar o protagonismo brasileiro no grupo, em dezembro,
o presidente Luiz Inácio Lula da Silva resumiu seu posicionamento: “Não
nos convém um mundo marcado pelo recrudescimento dos conflitos, pela crescente
fragmentação, pela formação de blocos protecionistas e pela destruição
ambiental. Suas consequências seriam imprevisíveis para a estabilidade
geopolítica”.
Reforma na ONU
É pouco provável, porém, que o encontro gere resultados ou
acordos concretos rumo à paz. Reuniões de órgãos multilaterais, como o G20,
costumam escancarar os conflitos em andamento em vez de resolvê-los. Há maior
expectativa em relação a outra pauta estratégica para o Brasil, de reforma das
instituições de governança global.
Alterações na ONU, no Banco Mundial, na Organização Mundial
do Comércio (OMC) e no Fundo Monetário Internacional (FMI) são uma das pautas
mais importantes para Lula no exterior. O presidente é crítico especialmente do
Conselho de Segurança na ONU, que não tem conseguido tomar medidas eficazes
para cessar conflitos. Lula pleiteia a ampliação no número de cadeiras
permanentes, incluindo uma para o Brasil. A medida já tem apoio, ao menos em
público, dos membros mais influentes, como Estados Unidos e China.
Uma semana após o encontro dos chanceleres no Rio de
Janeiro, será a vez de o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, comandar os
trabalhos de cooperação. São Paulo sediará o encontro de ministros das Finanças
e presidentes dos Bancos Centrais do G20, nos dias 28 e 29 de fevereiro,
relativo à Trilha de Finanças do grupo.
Por Victor Correia, Correio Braziliense


