Com Lula e STF, quem come a picanha são os corruptos

Política
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Com revisão de acordos de leniência, prejuízo pode ficar com aposentados
de estatais – ou com todos os brasileiros

O Papo Antagonista entrevistou nesta terça-feira, 27, a aposentada Gigi Reis, que soou o alarme: a revisão dos acordos de
leniência firmados na esteira da Lava Jato, em especial na Operação Greenfield,
pode resultar em prejuízo irreparável para os beneficiários dos fundos de
previdência Postalis, Petros e Funcef, ligados respectivamente aos Correios, à
Petrobras e à Caixa – essa última, a empresa onde Gigi trabalhou por décadas.

Gigi, que também publicou um artigo
no jornal O Globo sobre o assunto, explicou que os
contracheques dos funcionários das estatais já vêm sofrendo descontos de até
30% para recompor o patrimônio dos fundos de aposentadoria. 

O cofre dessas entidades foi dilapidado
porque alguns de seus gestores aceitaram propina de empresários bandidos, como
os notórios irmãos Batista, da J&F, para fazer pilantragens com o
dinheiro dos pensionistas cujos interesses deveriam proteger.

Cerca de um terço dos mais de 10 bilhões de
reais que a J&F se comprometeu a pagar nos acordos de leniência – e agora
quer reduzir – seria revertido aos fundos das estatais. 

Gigi teme que a dinheirama não volte. Pessoas
como ela acabariam sendo lesadas para que bilionários corruptos fiquem ainda
mais ricos.

Socialização de prejuízos

Aposentados como Gigi merecem toda empatia.
Não devem pagar a conta da roubalheira. 

Fazer justiça a eles, porém, não pode
significar a socialização geral dos prejuízos causados pela corrupção. 

Há duas hipóteses para que isso
aconteça. 

A primeira é que as empresas públicas decidam
cobrir o rombo dos seus fundos de pensão. Nesse caso, dinheiro estatal, que
poderia ser usado para outras necessidades públicas, acabará sanando um
problema que executivos dos próprios fundos, alçados a posições de comando por
sindicatos e partidos políticos, ajudaram a criar.

A segunda é que empresas
como a J&F sejam obrigadas a pagar na íntegra os prejuízos acarretados aos
fundos das estatais, mas levem para casa um descontão no restante das
obrigações. Nessas circunstâncias, o direito dos pensionistas terá sido
preservado, mas os demais brasileiros acabarão financiando a picanha premium no
prato dos irmãos Batista.

Suponho que Gigi concordará comigo: cidadãos
que não são funcionários da Caixa, ou dos Correios, ou da Petrobras, também não
merecem arcar com essa fatura. 

Solução à vista

A única solução correta é não reduzir de
maneira drástica os valores dos acordos de leniência. 

Na última quinta-feira, 22, a Federação
Nacional das Associações de Aposentados e Pensionistas da Caixa Econômica
Federal (Fenacef) realizou um grande evento.

Nele, o presidente do banco, Carlos Vieira,
despertou esperança nos aposentados. Ele sugeriu que o fim do drama está no
horizonte. “Talvez antes de acendermos a fogueira de São João isso já
esteja resolvido”
, disse.

Vieira não deu mais detalhes. Só cabe torcer
para que a solução que ele enxerga não seja nenhuma das duas que mencionei
acima.

Mas, para ser sincero, eu não tenho
expectativas boas.

O STF resolve

Vieira é ligado ao PP. Foi indicado ao seu
cargo pelo presidente da Câmara, Arthur Lira. Esse homem tão bem conectado
alimentou o otimismo dos funcionários da Caixa três dias antes de o STF reunir
todos os envolvidos nos acordos de leniência para um agradável
bate-papo

Nesse bate-papo, realizado nesta segunda, 26,
ficou combinado que em até 60 dias – bem antes das fogueiras de São João – um
novo consenso sobre as leniências deverá ser alcançado por empresas, CGU, AGU,
TCU e PGR.  

Tudo sob o olhar benévolo e jamais injusto,
muito menos politicamente interessado, do STF.

Abro uma conta-poupança na Caixa se o
resultado dessas tratativas não for a solução 2: cobertura total do rombo nos
fundos de pensão, mais um desconto generoso, generosíssimo, no restante das
multas e ressarcimentos devidos por J&F e patota. 

Para não me alongar demais, explicou as
razões da rabugice num segundo artigo. 

 

Por Carlos
Graieb
, O Antagonista

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