A crescente complexidade da sexualidade masculina no Brasil tem impulsionado novos olhares dentro da antropologia. Em seu livro Festa de orgias para homens, o pesquisador Victor Hugo Barreto, doutor pela Universidade Federal Fluminense, apresenta um estudo etnográfico realizado ao longo de quatro anos em festas privadas na cidade do Rio de Janeiro. O foco do trabalho são homens que se identificam como heterossexuais, mas que mantêm relações sexuais com outros homens nesses ambientes. Barreto observa que, apesar das práticas claramente homossexuais, muitos participantes resistem à rotulagem tradicional como gays ou bissexuais, optando por termos como “hétero flex” ou até “homossexual flex”.
Essas nomenclaturas ganham respaldo também na psicologia, como aponta o terapeuta sexual espanhol Juan Macías, em entrevista ao El País. Para ele, expressões como “hétero curioso” permitem aos indivíduos vivenciar experiências com o mesmo sexo sem necessariamente rever sua identidade heterossexual. As festas documentadas por Barreto ocorrem em espaços discretos como saunas e clubes de swing, com rígidas regras de participação que incluem aparência máscula, comportamento reservado e uma atitude desinibida. O uso de celulares é proibido, e os convidados circulam apenas de roupa íntima ou nus, reforçando o caráter sigiloso do evento.
A colunista Flávia Azevedo, em comentário provocativo, questiona a resistência ao uso do termo “bissexual” por homens que mantêm relações com ambos os sexos. Para ela, ampliar o leque de possibilidades pode ser o caminho mais natural para a felicidade — evocando até Freud, que dizia que todos nascem bissexuais. No entanto, Flávia observa que tais homens manobram a linguagem para manter o status de “heterossexual”, o que, segundo ela, revela uma rejeição específica a rótulos que tiram privilégios. A discussão mostra que, mais do que práticas sexuais, é a disputa por significados que define os limites da identidade sexual masculina contemporânea.
