“Aqui não é o fim. Se a
gente quiser seguir uma vida diferente, fora do crime, com força de vontade, a
gente consegue”. Foi com um sorriso meio tímido e um olhar que transmitia
esperança que a detenta T. S. R, a Tatá, de 30 anos, contou sobre o que a motivou
a estudar dentro da cadeia. Além de enxergar nos estudos uma oportunidade de
mudança de vida, a reeducanda destacou que sempre recebeu apoio da família e da
diretoria do presídio.
A presa, que cumpre pena na Unidade Feminina
de Rio Branco desde 2016, foi uma das cinco pessoas aprovadas, no Acre, no
Exame Nacional do Ensino Médio 2023 para Pessoas Privadas de Liberdade (Enem
PPL). Foram 3 em Rio Branco, 1 em Senador Guiomard e 1 em Tarauacá. Três delas
farão cursos na Universidade Federal do Acre (Ufac), e duas no Instituto
Federal do Acre (Ifac).
Tatá contou que vai cursar Ciências
Biológicas no Ifac, e acredita que a oportunidade é um importante recomeço,
principalmente para ela, que neste mês de março vai concluir sua pena. “Eu
posso dizer que, pra mim, é o ano do recomeço, e as minhas expectativas são
muito boas. Eu acredito que é um grande recomeço”.
Dalvani Azevedo é a diretora do Presídio
Feminino de Rio Branco. Ela explicou que a educação dentro do presídio funciona
de forma regular, como acontece em todas as escolas no estado. “A gente espera
o período de matrícula e no período escolar elas frequentam como se tivessem
numa escola externa. A única diferença é a questão do comportamento. As presas
que não têm interesse em estudar geralmente não permanecem, mas as que querem
chegam onde a Tatá chegou”, afirmou a diretora.
A diretora ressaltou que a reeducanda sempre
teve um comportamento exemplar dentro do presídio e que se sente muito feliz em
poder contribuir com a evolução dela e de outras detentas: “A gente acompanha a
Tatá há muito tempo. Ela é portariada há mais de três anos e trabalha como
faxineira aqui no prédio escolar. Ela convive diariamente com todo mundo, então
a gente fica muito feliz em ver esse resultado”.
Dalvani ressalta que a função do sistema
penitenciário não é penalizar, mas sim trabalhar pela ressocialização. “Estamos
aqui para transformar e dar oportunidades”, concluiu a diretora.
Segundo Margarete Santos, chefe da Divisão de
Educação Prisional do Instituto Penitenciário do Acre (Iapen), essa é uma
conquista, fruto de um trabalho contínuo do governo do Acre, em conjunto com
várias instituições, dentro das unidades prisionais em todo o estado. “A
educação nas unidades é desenvolvida de duas formas: através da educação
formal, que é a Educação de Jovens e Adultos (EJA), que é ofertada pela
Secretaria de Estado de Educação e (SEE); e é também expandida através de
atividades não formais, entre elas os programas e projetos de leitura como o
Projeto Mentes Livres, da SEE, e o Programa Presídios Leitores, coordenado pela
Ufac. Além disso, a Secretaria de Educação distribui material preparatório
impresso, tanto para o Enem quanto para o Encceja e para exames, quando é
necessário aplicar em alguma unidade, para que todos os inscritos possam ter
acesso”, destacou Margarete.
Tatá diz que tem consciência
que é fruto de todo esse trabalho e dedicação por parte dos profissionais, que
sempre acreditaram nela, e agradece a cada um: “Eu sou muito grata por tudo,
por todas as oportunidades que eu tive e estou tendo, porque viver nessa vida
não é nada fácil, e eu sei que mais na frente, com meus estudos, eu vou
conquistar mais coisas. Eu vou conseguir, se Deus quiser”, concluiu a futura
acadêmica.
Por Crislei Souza, Notícias do Acre